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Os 13 melhores poemas de Carlos Drummond de Andrade 👴

Os poemas de Carlos Drummond de Andrade estão listados abaixo e logo em seguida, confira uma breve introdução sobre esse grande autor da literatura brasileira!

  1. Amor é bicho instruído
  2. José
  3. Amar
  4. No meio do caminho
  5. Memória
  6. O Tempo Passa? Não Passa
  7. Verdade
  8. Os ombros suportam o mundo
  9. O Deus de cada Homem
  10. Amor e seu tempo
  11. Poema da Necessidade
  12. Não quero ser o último a comer-te
  13. Noturno à janela do apartamento

As poesias de Carlos Drummond de Andrade são pautadas pela utilização de versos livres, nos quais abdicava da metrificação, mas ainda assim mantinha um ritmo pessoal e despojado. O poeta também costumava implementar uma linguagem popular e objetiva.

O autor tinha como costume abordar o indivíduo como ponto focal, explorando suas complexas nuances emocionais e existenciais. Também tratava de temas, como sua terra natal, família, amigos, choque social, amor e o próprio ato de criar o poema.

Agora, fascine-se com uma maravilhosa leitura de alguns dos poemas de Carlos Drummond de Andrade!

Leia os Poemas de Carlos Drummond de Andrade

1. Amor é bicho instruído

Olha: o amor pulou o muro
o amor subiu na árvore
em tempo de se estrepar.
Pronto, o amor se estrepou.
Daqui estou vendo o sangue
que escorre do corpo andrógino.
Essa ferida, meu bem
às vezes não sara nunca
às vezes sara amanhã.

Poemas de Carlos Drummond de Andrade sobre amor
Primeiros versos de "Amor é bicho instruído", um dos poemas de Carlos Drummond de Andrade, sobre amor. Sobreposto a solidão de uma silhueta triste de uma pessoa sentada no meio feio de uma noite iluminada pelo poste incandescente.

2. José

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Poemas de Carlos Drummond de Andrade José
Versos iniciais de um dos mais famosos poemas de Carlos Drummond de Andrade, "José". Sobreposto a uma mulher, que encara uma rua vazia e enevoada, margeada por vultos de pinheiros.

3. Amar

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o amar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho,
e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

Amar Carlos Drummond de Andrade
Primeiros versos da poesia "Amar", de Carlos Drummond de Andrade. Sobreposto a um anoitecer nublado sobre um casal em união, que se fitam reciprocamente em uma transe de paixão.

4. No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

Poesias de Carlos Drummond de Andrade no meio do caminho
Versos iniciais de uma das mais famosas poesias de Carlos Drummond de Andrade, "No meio do caminho". Sobreposto a um caminho assentado por pedras, com gramíneas e flores rosas às margens, que parecem refletir o céu.

5. Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.

Obras de Carlos Drummond de Andrade sobre amor
Estrofe inicial de "Memória", uma obra de Carlos Drummond de Andrade, sobre amor. Sobreposto a silhueta de um casal, que contempla um pôr-do-sol dourado, sobre montanhas pretas.

6. O Tempo Passa? Não Passa

O tempo passa? Não passa
no abismo do coração.
Lá dentro, perdura a graça
do amor, florindo em canção.

O tempo nos aproxima
cada vez mais, nos reduz
a um só verso e uma rima
de mãos e olhos, na luz.

Não há tempo consumido
nem tempo a economizar.
O tempo é todo vestido
de amor e tempo de amar.

O meu tempo e o teu, amada,
transcendem qualquer medida.
Além do amor, não há nada,
amar é o sumo da vida.

São mitos de calendário
tanto o ontem como o agora,
e o teu aniversário
é um nascer toda a hora.

E nosso amor, que brotou
do tempo, não tem idade,
pois só quem ama
escutou o apelo da eternidade.

O Tempo Carlos Drummond de Andrade
Estrofe inicial de "O Tempo Passa? Não Passa", uma reflexão sobre o tempo, de Carlos Drummond de Andrade. Sobreposto a um céu límpido e azulado com um tracejado de nuvens que o corta ao meio, acompanhado da última fagulha do pôr-do-sol.

7. Verdade

A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.

E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os dois meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram a um lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em duas metades,
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
As duas eram totalmente belas.
Mas carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

Poema sobre a Verdade
Primeira estrofe de "Verdade", um poema de Carlos Drummond de Andrade. Sobreposto a um mar de águas estáticas, com um Torii (estrutura japonesa, que simboliza o significado do Ma) ao centro. Toda a imagem em escalas de cinza.

8. Os ombros suportam o mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

Poesia Os ombros suportam o mundo
Versos finais da primeira estrofe de "Os ombros suportam o mundo", uma poesia de Carlos Drummond de Andrade. Sobreposto à silhueta de uma árvore, abrigada por um céu roxo e alaranjado, em meio a um chão que espelha a paisagem em águas calmas e lisas.

9. O Deus de cada Homem

Quando digo “meu Deus”,
afirmo a propriedade.
Há mil deuses pessoais
em nichos da cidade.

Quando digo “meu Deus”,
crio cumplicidade.
Mais fraco, sou mais forte
do que a desirmandade.

Quando digo “meu Deus”,
grito minha orfandade.
O rei que me ofereço
rouba-me a liberdade.

Quando digo “meu Deus”,
choro minha ansiedade.
Não sei que fazer dele

Poesia O Deus de cada Homem
Estrofe inicial de "O Deus de cada Homem", uma reflexão de Carlos Drummond sobre Deus. Sobreposto a uma mão entrelaçada em oração, abrigando um terço, com a cruz de Cristo exposta à frente das mãos.

10. Amor e seu tempo

Amor é privilégio de maduros
estendidos na mais estreita cama,
que se torna a mais larga e mais relvosa,
roçando, em cada poro, o céu do corpo.

É isto, amor: o ganho não previsto,
o prêmio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado,
que, decifrado, nada mais existe

valendo a pena e o preço do terrestre,
salvo o minuto de ouro no relógio
minúsculo, vibrando no crepúsculo.

Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda a ciência
herdada, ouvida. Amor começa tarde.

Obra Amor e seu tempo
Segunda estrofe de "Amor e seu tempo", uma obra de Carlos Drummond de Andrade, sobre amor. Sobreposto a um casal lado a lado, entrelaçado-se com os braços envoltos um na cintura do outro, contemplando um belo céu azul e limpo.

11. Poema da Necessidade

É preciso casar João,
é preciso suportar Antônio,
é preciso odiar Melquíades,
é preciso substituir nós todos.

É preciso salvar o país,
é preciso crer em Deus,
é preciso pagar as dívidas,
é preciso comprar um rádio,
é preciso esquecer fulana.

É preciso estudar volapuque,
é preciso estar sempre bêbedo,
é preciso ler Baudelaire,
é preciso colher as flores
de que rezam velhos autores.

É preciso viver com os homens,
é preciso não assassiná-los,
é preciso ter mãos pálidas
e anunciar o FIM DO MUNDO.

Poema da Necessidade
Primeiros versos do "Poema da Necessidade". Sobreposto à perspectiva de alguém que observa as luzes urbanas desfocadas de uma rua, por entre uma janela que acusa o cessar recente de uma garoa.

12. Não quero ser o último a comer-te

Não quero ser o último a comer-te.
Se em tempo não ousei, agora é tarde.
Nem sopra a flama antiga, nem beber-te
aplacaria sede que não arde

em minha boca seca de querer-te,
de desejar-te tanto e sem alarde,
fome que não sofria padecer-te
assim pasto de tantos, e eu covarde

a esperar que limpasses toda a gala
que por teu corpo e alma ainda resvala,
e chegasses, intata, renascida,

para travar comigo a luta extrema
que fizesse de toda a nossa vida
um chamejante, universal poema.

Poesia Não quero ser o último
Segunda estrofe da poesia "Não quero ser o último". Sobreposto a uma pessoa que caminha sobre a vastidão da areia de uma praia, em meio a um céu nublado e repleto de nuvens.

13. Noturno à janela do apartamento

Silencioso cubo de treva:
um salto, e seria a morte.
Mas é apenas, sob o vento,
a integração na noite. Nenhum pensamento de infância,
nem saudade nem vão propósito.
Somente a contemplação
de um mundo enorme e parado. A soma da vida é nula.
Mas a vida tem tal poder:
na escuridão absoluta,
como líquido, circula. Suicídio, riqueza, ciência…
A alma severa se interroga
e logo se cala. E não sabe
se é noite, mar ou distância.
Triste farol da Ilha Rasa.

Obra literária Noturno a janela do apartamento
Quatro últimos versos de "Noturno à janela do apartamento, uma obra de Carlos Drummond de Andrade. Sobreposto a uma lua cintilante, em constraste com a noite escura em tons azulados e pretos, observada por uma janela.

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